17 de fevereiro de 2016

Peter

Peter, 

Muitas vezes temos a faca e o queijo na mão, mas optamos em ir até a ratoeira.
Caímos nas armadilhas do comodismo e do caminho mais fácil.

É muito mais simples nos colocar representando “um dos sete”, do que desenvolver um roteiro digno, com uma história que subverta essa lógica, que mostre o outro lado, que mostre o ser humano que somos. É muito mais fácil alimentar e contribuir para que nos enxerguem sempre como os seres mágicos, míticos e fantásticos, que na verdade não somos. 

Você mais do que eu, sabe que isso também se deve a um posicionamento nosso em não aceitar esses personagens. Enquanto tiver gente dizendo sim a essas condições, serão oferecidos somente esses estereótipos batidos e sem graça de personagens “feitos para nós”.

Ultimamente tenho conseguido me esquivar e escolher somente o que considero digno. Mas me pergunto: até quando? Vou bater de frente sozinho? Vou condenar quem aceita isso? Eu também já aceitei por muitas vezes...Todos temos que viver, pagar contas e nos alimentar.

O caminho é árduo e tomo alguns escorregões.

Quando você acha que está tudo indo para o lado certo, que o olhar das pessoas estão mudando, e que enfim conseguimos fazer a mídia nos enxergar com dignidade, eis que surge algo que nos arrasta à força ao mesmo ponto.

Peter, todos sabem que você é um ídolo e inspiração para que eu siga firme no caminho... mas confesso que vez ou outra dá um desgosto essa nossa profissão. Uma vontade de desistir e deixar tudo como está. Como mudar o olhar do mundo? Algumas decisões são difíceis. 
Às vezes, mas somente às vezes, me enxergo como todos os outros me enxergam: pequeno para mudar tudo isso.
Falta mais que criatividade para mudar. Falta coragem dos roteiristas, dramaturgos, escritores, diretores... até mesmo nossa.

Uma das lições mais valiosas que aprendi com a minha mãe é: “Quem quer faz. Não pede, não manda. Faz!”. Não podemos mais ficar esperando que os corajosos e criativos apareçam para mudar isso. Até porque são poucos os que pensam assim. Esse caminhar é nosso.

Por aqui os passos ainda são curtos. Vou precisar retroceder. Dar um passo atrás para me animar e conseguir dar dois à frente.
Ainda não enxergo o final do caminho. Talvez nunca o veja, mas quero ter certeza que cheguei o mais próximo possível.

Precisava dividir isso com alguém que me entendesse. Não achei pessoa mais indicada que você.
Sigamos! Você daí e eu daqui. Quem sabe um dia lado a lado.

Forte abraço.

Obrigado pelo combustível que você é.


Giovanni Venturini   - 15/02/16

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