24 de setembro de 2014

sobre crer

a minha superstição depende da mão
quando coça a direita
acredito e anseio a entrada do dinheiro
quando é a esquerda disfarço a coceira
sei rezar Pai Nosso e Ave Maria,
e fiz 3 pedidos ao nosso Senhor do Bonfim
quando amarrei a fitinha no pulso direito
brinco e relógio só uso no lado esquerdo
o sinal da cruz só faço com a mão direita
mas o que me conforta
é o centro do terreiro
bato no chão 3 vezes
absorvo a energia do solo
e depois levo ao peito
continuo crendo
em duendes, dríades, faunos
e outros seres mitológicos
mas nunca vi ácaros, Ícaros
nem cavalos alados
gosto de música cigana
e fugir com o circo me encanta
talvez por vidas passadas
mas não acredito em alma reencarnada
só creio em ressurreição da Fenix
do budismo, o karma e o nirvana
levo a sério coincidências
e creio em destino
mas acasos também me acreditam
eu não piso primeiro com o pé direito
seja ao levantar da cama
no campo de futebol
ou na roda de capoeira
quando acho algo perdido
graças a São Longuinho
dou logo 3 pulinhos
não peço a benção aos meus avós
mas rezo toda noite antes de dormir
sou educado, catequizado e crismado
mas não sei se creio no matrimônio
acredito que alguém pode viver sozinho
mas nunca solitário
às vezes acho que o ser humano é poligâmico
mas acredito em  ciúmes e amor a primeira vista
sei que cada panela tem sua tampa
e que ainda há fidelidade em quem ama
sento à mesa sem tirar o chapéu
tenho medo de comer banana depois da janta
mas corto as unhas de noite sem problema
não gosto de me encarar no espelho depois de almoçar
minha mãe já teve a boca entortada por golpe de ar
ainda assim como e tomo banho em seguida
e não ouso tomar leite depois de comer manga
creio que fora da Terra há vida
e em uma futura guerra por água
nunca fui em cartomante
mas já tive vontade
sei meu signo, minha lua e ascendente
e que o caos desse ano
é por ser regido por Júpiter
mas não leio horóscopo todos os dias
rezo o Santo Anjo antes da peça
espero que Dionísio não se ofenda
pois é a ele que peço proteção
ao entrar em cena
por vezes deixo uma sobra no prato
dizem que é pro santo
mas não gosto de oferenda
já confiei na tecnologia e na medicina
mas me perdi usando GPS
me achei apenas lendo placas
e nunca quis cirurgia
acredito que tudo
se transforma
nada se cria
o que se usa gasta
e vida eterna uma hora finda
às vezes acredito
em inferno, purgatório
e no céu São Pedro como porteiro
Zeus lançando raios do Olimpo
e Poseidon revirando águas
mas quando entro no mar
eu peço licença é pra Iemanjá
já quis sair do país
às vezes acho que não vou ter filhos
já quis criar raiz
às vezes me vejo com uma família
já quis sumir sozinho
vivi paixões repentinas
amei profundamente
mas tenho medo de relacionamentos
e já confundi todos os sentimentos
creio em tanto em muito
e duvido de quase tudo
o nada é tão certo
e o certo é tão nada
minha única certeza
que a dúvida é minha crença



Giovanni Venturini - 20/09/2014