9 de agosto de 2014

COICE REFLEXIVO - Dúbio de Daniel Minchoni

apois, estamos (des)educado por Daniel Minchoni a fazer dúbios de nós mesmos. E aqui está um dúbio do poema dele "Reflexos do Coice" (procure saber)

E aqui vai minha (di)versão:


COICE REFLEXIVO

não aprisione o burro em sua mente
terras vagas pra um animal turrão.
um galado livre empaca, mas anda pra frente

por não ser teu mascote,
mas por amor,
digo que sou, e só.

não julgue minhas medidas
nem se quer o por quê
de dizer isso a você.
a ofensa da ferradura
mundo novo que aprende:
meu pasto é o mínimo
e o mínimo elevado ao infinito é ofensa
pra ter asno, jerico ou jumento.
talvez coisas que até eu duvide
meu cabresto é poesia
me freia [sem] chicote
sem atritos nem esporão
a cem km/h passo
100 noção de livre arbítrio
crença.
meu coice é pegada
poesia estampada na cara
não só do tempo
mas na mansidão do ex-passo lento

então não cavalgue em mim, humano
pois como cavalheiro sendo cavalheiro pedante
acha que sou anta
e não dá conta de se ligar
que sendo burro, jumento, mula, asno, jegue, jerico, muá tenho lucubrações

olhar pro lado é sempre lindo,
não se cavalga sozinho.
vo ar é junto
construção sem a qual é
intrínseca e dogmática de ser igual.
e chega desse intuito
de voltar a escravatura,
deixe as rédeas do mundo nos guiar juntos.
guarde as palavras e títulos
pois o leito é inexorável
e que seja imprevisível, menos constrangedor
pra mim, você e quem estiver a nossa volta.
ferraduras nos calcanhares, na cabeça rédeas,
e vale sempre perguntar:
por que em mim? se é você quem me empaca?

não ignore meus antepassados
nem a marca do meu sangue nobre
meu pai foi mais forte que um touro,
ser vil mais de mil homens.
minha mãe uma pobre mula
ser vil de nobres a romeiros.
também somos equinos
de sangue limpo.
chega de preconceito com a família
dos “sem linhagem pura”.
não sou nenhum berbere
nem andaluz ou crioulo
mas pra mim não importa, tanto faz.

sou burro livre do tempo
e não tenho raça, sou isento.
meu pai é o destino.
e eu te juro:
seja bretão ou finlandeses
a diferença é nenhuma.
depois de tantas súplices:
por ser burro, não presto?
entendeu que somos uma só raça?

respeitar os caminhos
é dispensar rótulos e abrigos.
tão livre quanto um mustang
tão rápido quanto um cabardino
o burro se compara e iguala
com pônei ou tarpan
não é para inflar meu ego
sou também alazão
não importa a cor que me tinge
rótulos eu dispenso
cansei desse torro
coice do mundo.

o pior coice é o que dói o peito
é ausente que corr(ó)i o lado de dentro
por suas ilhas de servidas ofensas
perdida pelo amor d’efeito.
nossas servidões e seus dilemas
de se perder do nosso jeito de fincar
só zinho.
diria o mestre:
aprenda a lidar com o tempo
sente
esperar não é desistir.

sou seu irmão
tu também é animal,
de passos, não de trotes
gritos, falácias palavras
mais de ofensas do que de fatos.
lembre-se do mantra:
quando me procurou sabia de que era feito.
em feitio de coração
não se luta contra a natureza do animal.
de nenhum. nem dos fracos que tombam. quiçá da força.
qual bom burro de carga
de alegrias e tristezas
filho de falabella com frísios
de falas relinchos confusos
patas e focinhos compridos
de tropas torpes
separações por biótipos
dos pequenos pôneis
ao puro sangue inglês
da alma legítima
de tudo que limita
e de tantas outras
tortas coisas
que serve para nada.
esse que agora vos fala
lhe deixa uma pergunta:
a dúvida que trago na manga (larga)
é chefe sobre mim ou sobretudo?
não sou seu, nem tu é de mim
mas com respeito vou contigo até o fim,
por amor.

portanto,
não acerte essa chibata
no coro, me tira o sangue
a ofensa no meu peito
dói demais por dentro.
respeite a nós
e vou a galope.
se me sentir ofendido
adios amigo.
não me merece
contigo.

lembra sempre que truta tá do lado e não por baixo,
quanto mais me tiver afeto, receberá o mesmo desta besta.
quem se diz dono ou superior à um quadrupede qualquer
o verdadeiro burro é.

com amor,
do seu burro falante

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