24 de dezembro de 2014

Carta de reconciliação

Para Vida


Você foi dura, foi seca, crua e aprontou comigo, Vida.
Esse tal Dois Mil e Quatorze foi difícil, inconveniente.
Chegou devagar me acariciando, e fazendo promessas
de amor, de trabalho, de melhoras, de tudo.
Demorou a passar, deu coice, foi duro
foi rude e dizem que foi o mais quente.
Eu cai na lábia Dele, e você também né Vida?
Esse complô de vocês foi covardia, e ainda mais desse Júpiter que regia.
Foram lágrimas, decisões, revelações e dúvidas.
A cada virada, uma nova trama, tipo novela Mexicana.
As coisas pioravam e vinha você Vida, me acariciando toda meiga
dizia que ia passar, que estava melhorando então surgia
um novo problema, uma nova ofensa.
Foi malvada, um tanto quanto satírica, sádica, sódica...caustica.
Corroendo e rindo a cada erro, a cada lágrima, a cada DESGRAÇA.
E olha, que não foram poucas, mas deixemos de lado essa palavra.
Ela atrai mais coisa ruim, minha mãe sempre diz isso para mim.
E por falar em atrair, em trair, em mentir
enganar, em sofrer, em fingir
você sabe muito bem o que é isso não é mesmo, Vida?
Foi o ano que você mais mentiu, sorriu amarela
com cara de inocente, fez juras, promessas
eu, inexperiente, cai em todas elas.
Mas teve uma hora que até mesmo você cansou.
As tempestades, trovões, os ventos, o fogo de Iansã e Xangô uma hora cessou.
Não tinha mais o que aprontar, o que fazer, onde revirar. Deu uma trégua.
Esse tal Dois Mil e Quatorze foi chato, mas aprendizado a gente sempre leva.
Olha, não sou só eu que ando reclamando, a grande maioria quer que acabe esse ano.
Vida, eu sei que vocês tiveram uma relação intensa e profunda, mas foi fugaz.
Aprendemos muito, evoluímos, amadurecemos, porém é hora de deixar Ele para trás.
Mesmo eu reclamando, foi importante ter vivido e passado por tudo isso.
Nada vai ser apagado, oque aconteceu ficou para sempre na memória.
Volta para mim Vida, chegou à hora.
Precisamos nos livrar de ferrugens,
larga desse tal Dois Mil e Quatorze, mas nada de Dois Mil e Crise.
Eu te perdoo, e espero que você também, afinal as falhas não foram só suas,
eu tenho minha parcela de culpa.
É hora de revirar essa página com nossos erros.
Vida, Dois Mil e Kiss-me , beije-me,
Quis-me, Queira-me inteiro.

Ansioso te espero.



Giovanni Venturini – 22/12/14

16 de dezembro de 2014

como ver uma mosca voando ao seu redor
e não ter a compulsão de matá-la
como um grão de pó que gruda na lente do seu óculos
e não querer limpá-la
como uma gota que invade seu relógio
que não é a prova d’água
como perder a tarraxa do brinco
que mais gostava
como estourar a correia do seu chinelo
e ter que andar descalça

eu sou essa coisa pequena
que te deixa incomodada
essa inconveniência
que não sai da cabeça
essa miudeza
que finge que não liga
essa impertinência
que te preenche inteira
eu sou aquilo que te irrita
e não te sossega
eu sou o pouco
que te faz muito
um pequeno nada

do seu tudo


Giovanni Venturini - 21/07/14

25 de novembro de 2014

hotel rodoviária - Danislau



Terminei de ler o Hotel Rodoviária de Danislau. E posso dizer que “atinge o máximo em perigo e precipício”, assim como às mulheres cientes de si.
O que acontece no livro e na mente de Danislau, não é justo julgar. Assim como as loucuras que ele/eu/nós/todos aprontamos nas madrugadas. “O que acontece na madrugada a boca da noite engole. Nunca será justo julgar eventos noturnos à luz do dia [...]
Todo mergulho tem um pouco de abandono, está aí a cauda do Cometa Halley para comprová-lo.”

E eu me sinto mergulhado, e abandonado. Abandonado pela história, pelas personagens, pela poesia. Abandonado nesse hotel, nessa rodovia, nesse texas brasileiro, por essa trama, essa novela mexicana-brasileña-holly-e-bolly- woodiana.

Abandonado e em silêncio.
“O silêncio da porta é a herança maior que esse amor me deixou”, o meu atual silêncio é a herança maior que seu livro me deixou.

Chega de elogio, porque “elogio, quase sempre é um recurso dispensável, muito mais ofensivo que edificante.”

Entendi que era hora de acabar, afinal “a cerveja sempre acaba porque a sede tem que continuar.”

E eu estou sedento por mais!

20 de novembro de 2014

fone dissolvido

em meu fone
de ouvido
o som
do nosso fim
dissolvido
no último
acorde
pra vida
soul
devolvido
Giovanni Venturini - 14/08/2014

28 de outubro de 2014

Histórias Extraordinárias - National Geographic

Hoje, terça-feira (28/10), vai ao ar o último episódio de‪#‎HistóriasExtraordinárias‬ na National Geographic.
O episódio fala sobre nanismo e eu, junto com Mila Poci, Adriana Poci eNey Melo fomos personagens deste documentário.
Meus sinceros agradecimentos à equipe que acompanhou por alguns dias minhas aventuras pela cidade: Marcos Smania , Bruna Marcatto,Carlos FirminoFelipe RodriguesJuliano Zoppii, ‪#‎Luiz‬ , ‪#‎Jorginho‬ ,Beatriz Monteiroro e todos envolvidos no projeto.
Gratidão também à Kica de Castro, que liberou o nosso ensaio fotográfico para que filmassem, e além do que concedeu uma belíssima entrevista para o pessoal.
Muito grato Daniel MinchoniMarcus Enivovo , ‪#‎Jerry‬Luís Lobott, Tche D'aliaUaly Silvaly, ‪#‎Jamile‬ e toda a equipe da A7MA e do sarau do burropela parceria de sempre, por me fazerem sentir em casa (sempre), por liberarem a filmagem e participar de um momento especial como este.
Grato a Suzie BianchiFlavinhoAlberto GarcyaPaloma NogueiraRafael Barbosa e todos da Cia Circodança por terem autorizado a filmarem o nosso ensaio e cedido uma das salas para entrevista, mesmo em horário de aula.
Obrigado ao Anderson Pereira da Silva, que mesmo sem saber o que tava rolando, acabou fazendo uma participação no vídeo, enquanto filmávamos no Circo no Beco. Rsrs
E o maior agradecimento vai para os meus pais Jorge Venturini e Marli Fiori Venturini, por serem quem são, por terem me criado com tanto amor respeito, educação e acima de tudo igualdade. Por nunca terem me proibido de fazer nada por eu ser diferente, por terem me incentivado à seguir meus sonhos e por nunca saírem do meu lado, mesmo nos momentos mais difíceis. Amo vocês 
Então, recapitulando:
Hoje (28/10) às 23:15
no National Geographic
Histórias Extraordinárias – Nanismo

6 de outubro de 2014

dívida de poeta

estou duro
em dívidas
em dúvidas
de rimas
prometi versos
e poesias
para musas
e amigas
fico dando desculpas
de inspiração
é que não funciono sob

(de)pressão


24 de setembro de 2014

sobre crer

a minha superstição depende da mão
quando coça a direita
acredito e anseio a entrada do dinheiro
quando é a esquerda disfarço a coceira
sei rezar Pai Nosso e Ave Maria,
e fiz 3 pedidos ao nosso Senhor do Bonfim
quando amarrei a fitinha no pulso direito
brinco e relógio só uso no lado esquerdo
o sinal da cruz só faço com a mão direita
mas o que me conforta
é o centro do terreiro
bato no chão 3 vezes
absorvo a energia do solo
e depois levo ao peito
continuo crendo
em duendes, dríades, faunos
e outros seres mitológicos
mas nunca vi ácaros, Ícaros
nem cavalos alados
gosto de música cigana
e fugir com o circo me encanta
talvez por vidas passadas
mas não acredito em alma reencarnada
só creio em ressurreição da Fenix
do budismo, o karma e o nirvana
levo a sério coincidências
e creio em destino
mas acasos também me acreditam
eu não piso primeiro com o pé direito
seja ao levantar da cama
no campo de futebol
ou na roda de capoeira
quando acho algo perdido
graças a São Longuinho
dou logo 3 pulinhos
não peço a benção aos meus avós
mas rezo toda noite antes de dormir
sou educado, catequizado e crismado
mas não sei se creio no matrimônio
acredito que alguém pode viver sozinho
mas nunca solitário
às vezes acho que o ser humano é poligâmico
mas acredito em  ciúmes e amor a primeira vista
sei que cada panela tem sua tampa
e que ainda há fidelidade em quem ama
sento à mesa sem tirar o chapéu
tenho medo de comer banana depois da janta
mas corto as unhas de noite sem problema
não gosto de me encarar no espelho depois de almoçar
minha mãe já teve a boca entortada por golpe de ar
ainda assim como e tomo banho em seguida
e não ouso tomar leite depois de comer manga
creio que fora da Terra há vida
e em uma futura guerra por água
nunca fui em cartomante
mas já tive vontade
sei meu signo, minha lua e ascendente
e que o caos desse ano
é por ser regido por Júpiter
mas não leio horóscopo todos os dias
rezo o Santo Anjo antes da peça
espero que Dionísio não se ofenda
pois é a ele que peço proteção
ao entrar em cena
por vezes deixo uma sobra no prato
dizem que é pro santo
mas não gosto de oferenda
já confiei na tecnologia e na medicina
mas me perdi usando GPS
me achei apenas lendo placas
e nunca quis cirurgia
acredito que tudo
se transforma
nada se cria
o que se usa gasta
e vida eterna uma hora finda
às vezes acredito
em inferno, purgatório
e no céu São Pedro como porteiro
Zeus lançando raios do Olimpo
e Poseidon revirando águas
mas quando entro no mar
eu peço licença é pra Iemanjá
já quis sair do país
às vezes acho que não vou ter filhos
já quis criar raiz
às vezes me vejo com uma família
já quis sumir sozinho
vivi paixões repentinas
amei profundamente
mas tenho medo de relacionamentos
e já confundi todos os sentimentos
creio em tanto em muito
e duvido de quase tudo
o nada é tão certo
e o certo é tão nada
minha única certeza
que a dúvida é minha crença



Giovanni Venturini - 20/09/2014

30 de agosto de 2014

blues

não sei o nome de nenhum blues
para fingir que ouço na madrugada
enquanto salvo as mágoas
de serem afogadas

(dos ritmos que embalam a dor)


(23/06/2014)

18 de agosto de 2014

em (s)obra(s)

remo(v)endo
e(ss)e(s)
nó(s)
cansado de
plurai(s)
(s)ou
(s)ó (s)obra(s)
fechado
para reforma(s)


[do(s) avi(s)o(s) e reforma(s) no coração (s)ingular]




Giovanni Venturini (14/08/14)

9 de agosto de 2014

COICE REFLEXIVO - Dúbio de Daniel Minchoni

apois, estamos (des)educado por Daniel Minchoni a fazer dúbios de nós mesmos. E aqui está um dúbio do poema dele "Reflexos do Coice" (procure saber)

E aqui vai minha (di)versão:


COICE REFLEXIVO

não aprisione o burro em sua mente
terras vagas pra um animal turrão.
um galado livre empaca, mas anda pra frente

por não ser teu mascote,
mas por amor,
digo que sou, e só.

não julgue minhas medidas
nem se quer o por quê
de dizer isso a você.
a ofensa da ferradura
mundo novo que aprende:
meu pasto é o mínimo
e o mínimo elevado ao infinito é ofensa
pra ter asno, jerico ou jumento.
talvez coisas que até eu duvide
meu cabresto é poesia
me freia [sem] chicote
sem atritos nem esporão
a cem km/h passo
100 noção de livre arbítrio
crença.
meu coice é pegada
poesia estampada na cara
não só do tempo
mas na mansidão do ex-passo lento

então não cavalgue em mim, humano
pois como cavalheiro sendo cavalheiro pedante
acha que sou anta
e não dá conta de se ligar
que sendo burro, jumento, mula, asno, jegue, jerico, muá tenho lucubrações

olhar pro lado é sempre lindo,
não se cavalga sozinho.
vo ar é junto
construção sem a qual é
intrínseca e dogmática de ser igual.
e chega desse intuito
de voltar a escravatura,
deixe as rédeas do mundo nos guiar juntos.
guarde as palavras e títulos
pois o leito é inexorável
e que seja imprevisível, menos constrangedor
pra mim, você e quem estiver a nossa volta.
ferraduras nos calcanhares, na cabeça rédeas,
e vale sempre perguntar:
por que em mim? se é você quem me empaca?

não ignore meus antepassados
nem a marca do meu sangue nobre
meu pai foi mais forte que um touro,
ser vil mais de mil homens.
minha mãe uma pobre mula
ser vil de nobres a romeiros.
também somos equinos
de sangue limpo.
chega de preconceito com a família
dos “sem linhagem pura”.
não sou nenhum berbere
nem andaluz ou crioulo
mas pra mim não importa, tanto faz.

sou burro livre do tempo
e não tenho raça, sou isento.
meu pai é o destino.
e eu te juro:
seja bretão ou finlandeses
a diferença é nenhuma.
depois de tantas súplices:
por ser burro, não presto?
entendeu que somos uma só raça?

respeitar os caminhos
é dispensar rótulos e abrigos.
tão livre quanto um mustang
tão rápido quanto um cabardino
o burro se compara e iguala
com pônei ou tarpan
não é para inflar meu ego
sou também alazão
não importa a cor que me tinge
rótulos eu dispenso
cansei desse torro
coice do mundo.

o pior coice é o que dói o peito
é ausente que corr(ó)i o lado de dentro
por suas ilhas de servidas ofensas
perdida pelo amor d’efeito.
nossas servidões e seus dilemas
de se perder do nosso jeito de fincar
só zinho.
diria o mestre:
aprenda a lidar com o tempo
sente
esperar não é desistir.

sou seu irmão
tu também é animal,
de passos, não de trotes
gritos, falácias palavras
mais de ofensas do que de fatos.
lembre-se do mantra:
quando me procurou sabia de que era feito.
em feitio de coração
não se luta contra a natureza do animal.
de nenhum. nem dos fracos que tombam. quiçá da força.
qual bom burro de carga
de alegrias e tristezas
filho de falabella com frísios
de falas relinchos confusos
patas e focinhos compridos
de tropas torpes
separações por biótipos
dos pequenos pôneis
ao puro sangue inglês
da alma legítima
de tudo que limita
e de tantas outras
tortas coisas
que serve para nada.
esse que agora vos fala
lhe deixa uma pergunta:
a dúvida que trago na manga (larga)
é chefe sobre mim ou sobretudo?
não sou seu, nem tu é de mim
mas com respeito vou contigo até o fim,
por amor.

portanto,
não acerte essa chibata
no coro, me tira o sangue
a ofensa no meu peito
dói demais por dentro.
respeite a nós
e vou a galope.
se me sentir ofendido
adios amigo.
não me merece
contigo.

lembra sempre que truta tá do lado e não por baixo,
quanto mais me tiver afeto, receberá o mesmo desta besta.
quem se diz dono ou superior à um quadrupede qualquer
o verdadeiro burro é.

com amor,
do seu burro falante

13 de julho de 2014

Joseph (dúbio de José de Carlos Drummond de Andrade)

E agora, Joseph?
A Copa acabou
a Alemanhã ganhou,
da rival do Brasil,
mas antes nos goleou.
e agora, Joseph?
E agora o que vai ser?
A elite do yellow-blocks,
que não tem parâmetros,
sem discurso coeso
é quem protesta?
e agora, Joseph?
Está(dio) com a Mulher,
está confuso,
está sem carinho,
já não sabemos torcer,
já sabemos vaiar.
Morder já não pode
já até cicatrizou,
mas a punição veio,
pesada para o Uruguaio.
Pancada com joelho
do zagueiro Zúñiga
e a vértebra quebrou,
e ninguém viu
e pro Neymar acabou,
e agora, Joseph?

E agora, Joseph?
Nossa rude palavra,
nossa imagem se inverte,
nossa gula e jejum,
nossa educação Fuleca,
nosso mau agouro,
não somos impávido,
nossa incoerência,
nosso (p)ódio – e agora?
Com a taça na mão
Alemanha vai embora
mas quem se importa
depois de nos eliminar.
Foram só sete gols
por respeito às lágrimas,
mas cabia muito mais.
Joseph, que Copa.

Se Ibrahimovic viesse,
Se Ribéry não se contundisse,
Se Suárez não punisse,
Se o Messi jogasse,
Se o Reus recuperasse,
não entraria o Götze

Talvez Argentina ganhasse...
Mas como temos sorte,
“Sorte” é tudo, Joseph!

Se foi pago foi em Euro
mas duvido do fato.
Sem demagogia,
sem ser ingênua,
pra se superar,
sem esse (des)afeto
precisará de mais “sorte”.
Cuidado na Rússia, Joseph!
Joseph, se supere?

29 de maio de 2014

Claras Madrugadas

Solidão moderna é quando dá 2h da manhã
e todo mundo dá linha da sua time-line.

Às 3h da madruga o chat já está chato
e solitário.

Às 4 da matina é que você descobre
quem sonha e quem dorme.

Às 5h alguns viciados
ficam disponíveis, porém muito rápido.

Às 6h da manhã, sem nenhuma conversa boa
surge alguma dúvida louca.

Às 7h ao pegar no sono
conclui-se que:

Madrugadas em claro são as que mais sonhamos.


Giovanni Venturini  - 12/05/14


25 de maio de 2014

Espada de São Jorge - Iracema Barbosa

Pessoal, venho aqui publicar um texto de uma amiga minha, que escreve maravilhosamente bem, mas não divulga muito seus textos. Eu enchi o saco dela para fazer um blog, um site, publicar em algum lugar, mas ela não é muito ligada em tecnologia. Ela me autorizou a publicar em meu blog os seus textos. Então, fiquem atentos à este nome: Iracema Barbosa

Espada de São Jorge - Iracema Barbosa

Cheguei naquele momento da noite em que os pés doem, a boca seca e a mente voa. Longe. Todo mundo está indo embora. Meio bêbados, meio cansados, meio decepcionados. Eu estou sentada no banco de madeira. Iluminada pela luz exageradamente amarela que penetra as samambaias. Sinto cheiro de grama úmida. Deve ter chovido em algum momento da noite. Ah, que paz traz o jardim com design rústico na parte exterior de uma balada caótica. As pontas de cigarro no chão fazem parte da paisagem. Um cara senta na minha frente. Madeira molhada. Fecha os olhos ao sentir a luz exageradamente amarela que penetra as samambaias. Vassouras, rodos e panos de chão começam a surgir. Funcionários cansados se organizam para acabar com a fila do caixa.
Será que bituca de cigarro realmente faz bem para as plantas? Ou essa é só uma desculpa elaborada por fumantes compulsivos?
Com o cotovelo encostado na perna, desleixado. Ele me olha. Com um sorriso de lado faz a cara de quem bebeu demais.
Eu também bebi demais. Cadê minha comanda? Ai, meu deus! Perdi a comanda. Bolsa. Ah, está aqui! Ufa.
Ele olha indiscretamente para minhas pernas. Eu abaixo um pouco a saia. Ele vê indiscretamente minhas pernas.
Que horas são? Celular. 4h44. Ah, tem alguém pensando em mim! Como eu ainda faço essa brincadeira idiota de adolescente? Sorrio.
Ele levanta, acende um cigarro. Dá alguns passos e olha as samambaias.
Acho que eu o conheço de algum lugar. Esse rosto... Se bem que nessas baladas as pessoas são sempre as mesmas. Ano após ano as pessoas são as mesmas. As samambaias não, elas mudaram. Antes tinha uma espada de São Jorge ali. Acho que os cigarros mataram a espada de São Jorge.
Ele volta para o banco e coloca a bituca dentro de uma latinha de cerveja jogada no chão. Me olha, passa as mãos nos joelhos. Constrangido. Olha indiscretamente em meus olhos. Levanta. Decidido. Se aproxima devagar. Decidido.
Fico estática. Será que eu conheço mesmo? Ele é bonito. Nem tanto... Ah, é charmoso. Eu devo conhecer.
Decidido aproxima seu rosto do meu, seu corpo do meu, sua boca da minha. Permaneço sentada, estática. Passa a mão por minhas coxas. Suave. Entre as minhas pernas encontra espaço. Decidido. O indicador afasta a calcinha. Olha indiscretamente em meus olhos. Penetra dedos, mão, possui. Não. Luz exageradamente amarela penetra minhas pálpebras. Contração. Madeira úmida. Olhos fechados, olhos apertados, fechado, fechado. Não, sim. Prazer. Prazer. Sim, sim. Luz, samambaia, cigarro, gozo.
Olha indiscriminadamente em meus olhos. Tira as mãos, afasta o corpo. Decidido se afasta. Se afasta, desvia o olhar e sai pela porta de vidro. É tarde. Tenho que pagar a conta. Cadê minha comanda?


22 de maio de 2014

Cruzadinha

a menina descalça
num trem de domingo
brinca com sua vida
procura palavras
joga com elas
preenche os espaços
e deixa outros tantos
em br_n_o.
vagarosa lê,
L-E-T-R-A -P-O-R- L-E-T-R-A
palavras difíceis
nunca lidas
nunca vividas
e a dúvida maior
da vida
em relação à menina:
“cadê o arrependimento na cruzadinha?”

ou talvez tenha sido ao contrário



Giovanni Venturini – 15/03/14

11 de maio de 2014

Transmudo

quando a decepção
de-capta o orgulho
nada supre o vago
que surge no peito aberto
ou na mente fechada.

mas como lagartixas somos regenerados
seja pelo oco do ritmo no peito
ou pelo rabo preso em qualquer porta
entre-aberta.

surgimos outros eu’s no mesmo corpo,
outros corpos na mesma mente mentirosa
como sempre fomos
outras faces de fachada.

ressurgimos e sumimos
de um eu que não há mais.
de um ser transmutado e expulso
pela especulação-humanitária.

deixamos de ser eu,
de sermos nós
para ser(vir) à vós
novo ser que não é
mas me perten-será?

(re)generoso que sou
me mudo
e transmuto mudo
num tumulto
que não cabe em uma só vida
nem em um só Mundo.

Giovanni Venturini -29/03/14


11 de abril de 2014

Saudades

Saudades das imagens antigas
dos filmes em preto e branco
com marcas falhas na tela.

Saudades das nunca reveladas fotos queimadas
dos fados entoados
dos fatos desmentidos
dos atos desmedidos
de razão

Saudades do que não vivi
mas do que vi, com olhos nostálgicos
de uma realidade que não me pertenceu
mas na memória retorna
com um gosto de “quero mais o que me falta”

Já não se fazem presentes
para lembranças
futuras


Giovanni Venturini – 28/03/14

29 de março de 2014

Bobo seREI

Achei minha chance de ser
Acabo de encontrar o que tanto não sei
Agora eu tenho um legado
Quero ser louco, ser bobo, ser tolo
Agora que sou, esqueci de seRei

A vida inteira/meia colorida
Para dançar de pés não tão descalços assim
Piadas a sério, seRei
Aquele que ri de quem ri de mim

Um mastro de apoio
Enfeite do louco
Daquele que anda torto
Na vida reta
Desfigurado que se diz poeta

O ser desprovido de vida
É o que alegra-se com si
Com cá e com lá
Com luas e sóis
Que é o que sabe
Que sabe quem és:
-Nunca Ser-Rei
Bobo da corte, acima da lei!

Piada com todos, se diverte com pouco
E muito me faz entender
Que na vida quem tem mais poder
É o que se diz bobo, mas duvido de fato ser
E o rei que banca de sábio
Não sabe o mais simples dos fatos:
O bobo é mais sábio, porque não sabe
Que o poder que tem é maior que o de SeRei


Giovanni Venturini (21/02/14)

10 de março de 2014

Casa de solteiro

um copo qualquer
prato pequeno
panela de pressão imprecisa
cheio de xicara em cacos
e poucos píres intactos
panos de pratos
rotos e furados

não tenho toalhas de mesa
de banho e de rosto tampouco
tapauer tá vazio de sobremesa
não tenho cadeira nem banco

o criado-mudo mudou-se
para longe e não volta tão cedo
energia elétrica esqueceu de acender
mas do escuro não tenho medo

lençol limpo é lenda
fronha é folgada
pro meu travesso travesseiro
que na verdade é almofada

o colchão tá furado
o estrado estragado
dvd duvido um dia eu ter
não vejo, nunca vi nem tenho tv
só falta um banheiro
com pia chuveiro
privada ou bidê

do computador só tenho metade
tá faltando “com puta”
pois com a idade
a “dor” sobra em todas as juntas

parede pros quadros que não tenho
ou pra rede que sonho em ter
só fica deitada e acho difícil um dia se erguer

qualquer coisa dessas que disse me desse
ficaria grato em ganhar
mas queria que você soubesse
se puder me ajudar
o que mais queria ter
é a companhia de você



Giovanni Venturini 18/12/13

16 de fevereiro de 2014

Amor Perecível

Se me deleita
E dita
A regra
É deitar
Do lado
E chorar
O litro
De leite
Derramado
Delinquente
Latrocínio
Que dita
E vende
Amor
Delatado
À preços
À pressas
Sempre
Apreciado
Enlatado
Estragado
Com datas
Válidas
Deliberadas
Com ditas
Cálidas
Ludibriadas


Giovanni Venturini - 13/02/14


30 de janeiro de 2014

Eu te Hímen

Você quer que eu ame
o seu íntimo
e o seu infame
Eu quero que você inflame
o seu hímen
e a minha glande

Giovanni Venturini – 27/01/14

27 de janeiro de 2014

16 de janeiro de 2014

Circo A(r)mado

**Essa semana conheci o texto "O Grande Circo Místico" de Jorge de Lima. Isso me motivou a escrever sobre o tema circo, que já tinha vontade faz tempo.

Mas na verdade parte da minha inspiração veio do clássico poema "Quadrilha" de Carlos Drummond de Andrade, só que na versão Circo.

E coincidentemente (ou não) assisti um filme insano e incrível hoje, que tem muito haver com o poema que fiz dias atrás. O filme chama-se "Balada Triste de Trompeta" do cineasta espanhol Álex de la Iglesia (procurem, assistam que é incrível).




Circo A(r)mado

O amor ergue a lona
anda na corda bamba
devagar se equilibra
para não estragar a cena.

A contorcionista faz de tudo com seu corpo
só não domina as contorções e contrações
do seu coração teimoso.

O homem mais forte do mundo
em seu trailer parece frágil
sonha em encontrar uma moça
que enxergue a sua beleza
e não tenha medo da sua força

Já a senhorita do tecido
é perita em se enrolar
nos lençóis de quem lhe desejar.

A trapezista apaixonou-se pelo mágico
mas este só a deixou iludida
disse que a amava para toda a vida,
logo depois que mais nada sentia
e com um truque ilusionista
passou a se atracar com a moça da bilheteria.

A mulher barbada
quer se depilar
e ficar mais sensual
para ver se conquista
o cara da perna de pau.

Este por sua vez,
se apaixonou pelo atirador de facas.
Que tremenda enrascada,
pois o cabra é macho,
não tira a peixeira debaixo do braço
e com a moça da cama-elástica ele tá de caso.

A engolidora de espadas
tá cuspindo fogo de raiva
e não engole essa história
de que o domador quer ficar só.
Mas o que ele tem é medo de amar
porque esse é o único bicho que
não consegue domar.

Certa vez o apresentador
presenciou uma cena sem igual:
todos os 4 malabaristas
praticando sexo grupal.
Era um tal de bolinha no chão, clave na mão,
e aro para tudo quanto era lado.
O apresentador correndo assustado,
entrou no trailer errado
e acabou consolando
o homem bala e seu canhão calibrando.

Agora esperto mesmo é o anão
que com ninguém dali se envolve
mas no fim de cada sessão
com alguém da plateia se resolve.
Todas curiosas com o tamanho
e seu desempenho
ele disposto em saciar a curiosidade,
leva todas as mocinhas da cidade
para o número mais aguardado
ao término de cada espetáculo.

Ah, o palhaço sempre tão hilário
porém tão solitário.
Já amou a todos daquela lona,
mas não levou nenhum romance à tona.
Prefere sonhar acordado
Com cada um e cada qual,
todos juntos ou individual
do que se envolver de verdade
quebrar a cara e se dar mal.
É o único que é livre do amor
e tem o amor livre de si
mas como qualquer outro dali
por amor chora e também sorri.

Seja por
enroscos ou choros,
carícias ou gozos
sabemos que chegou ao fim
pelo som dos aplausos
e as lágrimas no rosto.


Giovanni Venturini – 12/01/2014


11 de janeiro de 2014

Passou e ficou - para Ned

Nada falta à vida
para ser injusta
Nada fica à altura
dessa falta que a vida faz
Nada passa despercebido
aos ouvidos de quem faz da vida
uma passagem e Nada mais.

Tudo passa sem se prender
Tudo fica sem se perder
Tudo que passou
ficou e ficará em você.

Ajoelham-se para lhe ouvir nos olhos
ver a altura da sua voz
e compreender
que a vida que passa
é muito mais vivida
que a vida que fica
sem graça
despercebida.



Para Ned – Giovanni Venturini 09/01/2014

6 de janeiro de 2014

Pedido

Era um mar de estrelas no céu.
Nunca tinha visto o céu tão claro
às 2h da madrugada.

Não acostumado com isso,
buscava olhar o negro do céu branco.
Somente onde não havia estrelas.

Chegou a ver uma estrela cadente,
mas fingiu que não.

No mundo dele não existia estrelas no céu
e muito menos cadente.

Mesmo assim fez o seu pedido em segredo.


Giovanni Venturini - 28/12/2013